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Balé e Racismo: Bailarina Juliana Pires desabafa sobre racismo na dança.


Juliana Pires, de 22 anos, iniciou no balé quando tinha apenas 4 anos, num projeto social na Vila Olímpica do Salgueiro (ZN) onde ficou por mais de seis anos. Em 2019 voltou para a dança, mas indo para as aulas de afropuff em vez do coque – pois o penteado tradicional prejudicava o cabelo da mesma.

Por conta do penteado ouviu comentários racistas na escola de dança, partindo de uma professora. Ela deixou de freqüentar as aulas, procurando por outra academia e nesta, foi desde o primeiro dia de coque. Porém, o penteado tradicional do balé traz algumas conseqüências: A bailarina relatou que não demorou muito para abrirem feridas no couro cabeludo. Por conta do cabelo crespo, precisa puxar muito para deixar o penteado padrão e, culpa de um racismo estrutural, Juliana não estava se sentindo bem para fazer o que mais ama. Sem o “coque tradicional”, ela já não se enxergava uma bailarina.

Uma conversa com sua nova professora foi um divisor de águas para a bailarina continuar seu ofício: As duas combinaram que ela deveria usar seu cabelo da forma que a fazia se sentir bem, sendo preso ou solto. E esse caso serviu de exemplo para outras bailarinas: Algumas mães de alunas pretas a viam pela academia, e falavam que as filhas diziam querer fazer a aula com o cabelo preso como o dela, mas que não tinham coragem.

Nós estamos cercados de racismo por todos os lados: Camuflados em “penteados padrão”, sapatilhas “cor de pele” que não tem o tom da nossa pele, meia calça. Não podemos estalar os dedos e acabar com isso, mas se cada um fizer sua parte, modificamos pouco a pouco esta estrutura tão enraizada no ser humano. Um penteado confortável fez alunas mais jovens se inspirarem e criar coragem para usá-lo também. Uma publicação nas redes sociais “viralizou” e fez muita gente se identificar – inclusive a também carioca Ingrid Silva, bailarina principal do Dance Theatre of Harlem, em Nova York.

Agora, muitas meninas e jovens estão sendo inspiradas pela bailarina, que segue com seu penteado afropuff e sapatilhas com a cor correta pra retratar o tom de sua pele. Uma atitude pode não mudar o mundo, mas muda o mundo à sua volta, e precisamos de mais espelhos. Precisamos que as nossas crianças tenham em quem se inspirar, para que consigamos de pouco a pouco ir mudando nosso futuro.

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